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Olhares

Um calafrio brotou da ferida e percorreu todo o corpo de ambos. Tinham a séria impressão de mergulharem em uma câmara de gelo, porém a sensação estranha passou tão logo quanto veio. Em seu lugar, apenas sentiam a pele mais fria e pálida do que o de costume.
- Cara, o que foi isso? - perguntou Marcell, ainda em choque.
- Não sei. Mas nada parece ser um sonho. Pensei que ia morrer de frio!
Marcell assentiu, assustado, e resolveu se calar. Apesar do medo, seus pensamentos foram tomados pela imagem de Nath. Ele queria entender porque Rodolfo sonhava com ela, mas ele não. Se perguntasse ao amigo, ele poderia pensar que ainda havia interesse da parte dele, e poderia ter ciúmes. Na época, se compreenderam com a paixão compartilhada, mas reviver o assunto e a paixonite estava fora de questão.
O silêncio os envolveu de tal maneira que, através do olhar, entenderam que era hora de sair dali. Era inexplicável, mas impossível continuar ali. Desceram da casa da árvore, e pouco se importaram de chegar no meio da primeira aula.
Na hora do intervalo, Marcell procurava uma maneira de tocar no assunto com Rodolfo, até chegarem em uma conclusão sobre os sonhos, as marcas e o calafrio intenso. Contudo, simultaneamente ao seu arroubo de coragem, Nath passou por trás dele e fez um sinal a Rodolfo, que parecia hipnotizado por ela.
- Rodolfo?
- Quê?
- O que você tá olhando?
- Nath. Ela parece prestar atenção em mim de novo.
- Só que essa atenção não é de graça. Você sonhou com ela e foi mordido, assim como aconteceu comigo, embora não saiba quem é a criatura com que sonhei.
- Pois é, tive mais sorte do que você! - debochou Rodolfo.
- Você que pensa. Ela está perto de nós, pode fazer muito pior do que no sonho. Você acha que fomos mordidos de verdade?
Ele mirou o lanche, sem fome alguma, e disse, ainda cabisbaixo e sombrio:
- Se fomos, você sabe muito bem o que vai acontecer depois.
- Ou o que já aconteceu - acrescentou Marcell.
De repente, o semblante preocupado de Rodolfo relaxou e se tornou nervoso:
- Que ótimo! Não basta a situação ser uma bosta, e você decide zuar com a minha cara?!
- O que foi? - Marcell, indignado, levantou-se, e o amigo fez o mesmo.
- Que merda de lentes de contato vermelhas são essas? Reparei só agora! Não tem graça nenhuma!
Imediatamente, a imagem do homem de cabelos loiros e olhos avermelhados o invadiu e era como se não enxergasse mais seu amigo. A realidade se tornara muito pior do que os pesadelos.

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