Blogger Template by Blogcrowds

O Livro das Virtudes

William J. Bennett é o responsável pela antologia que terminei de ler ontem à noite. O que ele fez foi reunir fábulas, contos de fada, lendas, mitos, cartas, passagens da Bíblia e muitas outras histórias vindas de diferentes lugares.
Dividido em dez partes – Disciplina, Compaixão, Responsabilidade, Amizade, Trabalho, Coragem, Perseverança, Honestidade, Lealdade e Fé, virtudes reconhecidas como necessárias à verdadeira formação moral de qualquer cidadão – o livro contém textos de diversas culturas e épocas, daqueles considerados “eternos”. Encontra-se desde Shakespeare a Monteiro Lobato, passando por Charles Dickens, Esopo, Machado de Assis, Mark Twain, Oscar Wilde, Vinícius de Moraes e até Irmãos Grimm.

Não faz muito, discutíamos na Corvinal sobre a natureza do homem. Alguns de nós dissemos ter perdido a fé na humanidade, por motivos que não vêm ao caso. Foi pensando nisto que escolhi o seguinte texto para complementar meu post; Chama-se A Natureza do Homem é Boa e foi escrito por Mêncio, um sábio chinês contemporâneo de Aristóteles no Ocidente e pode ser encontrado nO Livro das Virtudes.

A Natureza do Homem é Boa

A tendência da natureza do Homem para o bem é como a tendência da água em fluir para baixo. Não há quem não tenha essa tendência para o bem, como toda água tende a fluir para baixo.

Ao batermos na água fazendo-a espirrar para cima, podemos conseguir que ela respingue acima de nossa cabeça e, ao represá-la e conduzir seu curso, podemos forçá-la a subir, morro acima - mas estariam tais movimentos de acordo com a sua natureza? É a força exercida que os causa. Quando os homens são forçados a fazer o que não é o bem, sua natureza está sendo manipulada de maneira semelhante.

Todas as coisas do mesmo tipo são semelhantes umas às outras - por que teríamos dúvidas quanto ao Homem, como se ele fosse a única exceção a essa regra? O sábio e nós somos do mesmo tipo.

As árvores da Nova Montanha já foram belas. Encontrando-se, entretanto, na fronteira de um grande Estado, foram cortadas pelos machados e pelas serras - e teriam conseguido manter sua beleza? Ainda através da atividade da vida vegetativa dia e noite, e da influência nutritiva da chuva e do orvalho, não deixaram de dar brotos e ramos; mas logo vieram os bois e as cabras, e deles se alimentaram. A tais coisas deve-se a aparência desolada e árida da montanha que, vista pelas pessoas, parece não ter sido muito bem coberta pelas matas. Mas será essa a natureza da montanha?

Da mesma forma se dá o que pertence propriamente ao Homem - pode-se dizer que a mente de algum homem não tenha sido provida de benevolência e justiça? A maneira pela qual o homem perde o bem próprio de sua mente é semelhante àquela em que as árvores são tombadas por machados e serras. Talhada diariamente, poderá ela - a mente - manter sua beleza? Mas há um desenvolvimento de sua vida dia e noite, e no ar sereno da manhã, justo entre a noite e o dia, a mente sente num certo grau aqueles desejos e aversões característicos da humanidade, mas o sentimento não é forte e sofre o ataque e a destruição daquilo que se passa durante o dia. Acontecendo dia após dia tais obstruções ao seu desenvolvimento, a restauradora influência da noite não é suficiente para preservar o bem próprio da mente; e quando se comprova essa insuficiência para tal propósito, a natureza se torna não muito diferente da natureza dos animais irracionais que as pessoas, ao observarem-na, acham que nunca teve esses poderes que estou afirmando. Mas tais condições representariam os sentimentos próprios da humanidade?

O jogo de xadrez não passa de uma pequena arte, mas sem a entrega total da mente, e sem os desejos voltados totalmente para tanto, um homem não é capaz de nela atingir bom êxito. Chess Ts’ew é o melhor enxadrista do reino. Suponhamos que ele esteja ensinando dois homens a jogar. Um deles entrega-se de mente aberta e volta toda a força do seu desejo para o aprendizado, e nada faz que não seja escutar o mestre. O outro, embora pareça estar prestando a máxima atenção nos ensinamentos de Chess Ts’ew, está na verdade pensando no cisne que se aproxima e querendo preparar o arco, ajustando bem a flecha para acertá-lo. Embora esteja aprendendo com o outro, não conseguirá se equiparar a ele. Por que? Por que sua inteligência não é igual? Não se trata disso.

Há casos em que os homens, por um determinado curso, podem preservar a vida, e não seguem tal curso; em que, por determinadas coisas, podem evitar o perigo, e não fazem tais coisas.
Portanto, os homens têm o que lhes apraz mais do que a vida e o que lhes desgosta mais do que a morte. Não serão homens de distintos talentos e virtudes somente aqueles que tenham essa natureza mental. Todos a têm; o que pertence a tais homens é simplesmente o que eles não perdem.

O discípulo Kung-too disse:
- Todos são igualmente homens; mas alguns são grandiosos e outros, insignificantes: como se dá isso?

Mêncio retrucou:
- Aqueles que seguem o que neles é grandioso são grandiosos; aqueles que seguem o que neles é insignificante são insignificantes. À mente cabe o ofício de pensar. Pensando, ela obtém a visão correta das coisas; negligenciando o pensamento, ela fracassa nesse intento. Apegue-se o homem à supremacia da parte mais nobre de sua constituição, e a parte inferior não será capaz de lhe tomar essa posição. É simplesmente isso que faz um homem grandioso.
---

Deixo a conclusão a cargo de vocês. :)

5 comentários:

Primeiro livro de mulherzinha e agora livro de auto-ajuda.
O nível já foi bem maior... :roll:

27 novembro, 2007 14:26  

uhauhauhahauha não seja besta, não é auto-ajuda. eu acho. o.õ

27 novembro, 2007 14:57  

Com todo o respeito aos outros corvinais que postam aqui (eu inclusive, XD), esse post da Nine foi o melhor desde que o blog começou.

Ali, você destruiu!!!

Evidente que eu, enquanto pessoa que perdeu sua fé na Humanidade, discordo dessa visão de que o homem seja naturalmente bom. Mas eu simplesmente amo esse tipo de texto que nos faz parar pra pensar em quem somos e como somos.

Sua indicação de leitura está devidamente anotada. Uma compilação de textos como essa tem que estar na minha estante, e logo!

27 novembro, 2007 17:36  

Aaah, obrigada, Sophie! de verdade x)

e eu já disse que, na minha opinião, as pessoas não são ruins pq querem e sim pq algo as induziu a isso... nada de perder a fé na humanidade. XD

28 novembro, 2007 13:04  

Eu tenho fé na humanidade! \o/
O problema é que é sempre o lado ruim que se sobressai, porque temos a tendência de ignorar as coisas boas ao nosso redor.
É incrível isso. xD

28 novembro, 2007 16:54  

Postagem mais recente Postagem mais antiga Página inicial