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Liberou geral?

“Não sou de ninguém; eu sou de todo mundo e todo mundo é meu também.” (Tribalistas)


Às vezes me pergunto se um E.T. chegasse à Terra o que ele pensaria a respeito da volubilidade de nossas relações pseudo-amorosas. “Pseudo”, é bom que se diga, porque na maioria dos casos o amor passa muito longe dessas ligações momentâneas que estabelecemos. Acharia esse observador externo que evoluímos para uma sociedade livre, na qual todos podem viver sua sexualidade sem se prender a rótulos ou juízos conservadores de censura? Ou pensaria que nosso comportamento foi moldado por um excesso de libertinagem, e agora não mais sabemos construir relações estáveis?

Admito que não sei a resposta, por não ter imparcialidade suficiente para analisar essa questão sem carregar comigo uma série de valores que a sociedade e a família plantaram em mim. Se por um lado é certo que essa abertura de pensamento fez cair vários preconceitos e estereótipos retrógrados, é igualmente correto afirmar que nos tornamos quase reféns dessa (aparente) liberdade irrestrita que construímos em nossas relações sociais.

O consumismo é a marca registrada desse novo século. O problema é que estamos aplicando a lógica de mercado até no trato com as pessoas. Nos mantemos próximos de alguém apenas enquanto for conveniente; se surgir uma novidade que parece ser mais estimulante, basta fazer a troca. E embora isso não me pareça exatamente ético, não haveria problema se fosse o retrato de uma sociedade que é feliz por sempre dar vazão aos seus próprios desejos. Mas a excessiva valorização do comportamento libertário caiu num paradoxo: há o imperativo de que se seja livre. Não é mais uma escolha; todos têm que ser livres. E, neste momento, a liberdade deixou de existir.

Hoje é visto como um pecado mortal criar expectativas em relação ao outro; fazer cobranças, então, é caso de internação. Já há até quem, num suposto relacionamento sério, faça a chamada “traição preventiva”. O medo de ser passado para trás, num meio em que a oferta de sexo é grande e a preocupação com o estado civil alheio é inexistente, faz com que a pessoa se adiante ao possível “chifre” e ela mesma escape ao compromisso firmado. Ficar muito tempo sem beijar ninguém também é inadmissível, mesmo que para quebrar o jejum se tenha que encarar aquela pessoa lamentável, por quem antes da “seca” você sequer sentia atração. E os limites do que é permitido ou não em dado relacionamento não são mais estabelecidos segundo o desejo e a química do casal, mas de acordo com o padrão esperado.

Sem perceber, estamos nos tornando cativos dessa ideologia do “liberou geral”. O ser humano depende das relações sociais que estabelece para viver e ser feliz, e o sucesso delas depende da confiança que depositamos nas outras pessoas. Mas como confiar em alguém num ambiente em que tudo é permitido? Claro que não nego os benefícios de tempos mais livres, porque acho que ninguém quer voltar à época das nossas avós, em que namorar era ficar de mãos dadas na sala de casa e dar beijos roubados no cinema. Mas eu realmente acho que não há tanto benefício na ideologia libertária quanto se supõe. O preço que pagamos para sermos “livres” está sendo alto demais. Está custando a nossa própria liberdade (na verdadeira acepção do termo) de escolha, a confiança nas pessoas e, por conseguinte, o quanto somos felizes.

Até quando continuaremos presos por essas amarras invisíveis?

10 comentários:

Que post pretensioso!

29 outubro, 2007 14:56  

não achei pretensioso, muito pelo contrário: é tudo verdade.
hoje em dia são poucos os que acreditam (e querem) um amor bonitinho, só a dois uhauahuah xD

29 outubro, 2007 15:08  

Não sei se eu concordo exatamente com o seu texto.
Para mim essa atitude de "liberou geral" não passa de uma fachada.
As pessoas continuam presas pelos mesmos preconceitos e moralismo dos anos 50.
O que existe hoje é uma imposição do consumismo acéfalo, uma tentativa ridícula de parecer cool e um desespero tão grande em busca de uma individualidade que ninguém percebe que estamos caindo numa mesma mesmice de sempre.

29 outubro, 2007 15:16  

Este comentário foi removido pelo autor.

29 outubro, 2007 15:35  

Eu adorei o tópico levantado. Em parte eu concordo com o Le, há realmente muito de fachada nessa história. E quanto à liberdade, bem, eu concordo inteiramente contigo, Sofí. A verdade é que eu não acredito em liberdade.

29 outubro, 2007 15:38  

Ali, Aline, Aniiine, eu não disse que era mentira, só fiz uma piada, que falhou porque eu esqueci de colocar meu nick lindinho. Aliás, você se lembra quem sou eu no quesito pretensão?

Enfim, Sofia, peloamordelucibel! Você não apelou com a minha brincadeira, né?

Ok, agora eu vou comentar o post:

Eu gostei do seu post, mesmo. Entendo seu ponto.

Na verdade não liberou porra nenhuma. A questão é a seguinte, há uma pseudo sensação de "libera geral", enquanto que, na verdade, as concepções tradicionais estão mais presentes do que nunca.
Uma prova disso é as novas vestes que o patriarcalismo vem recebendo há séculos, etc.

Beijos!

29 outubro, 2007 17:36  

ai, dona Lilith, é que cooom certeza eu sabia que tu era o ser anônimo postando ali em cima, blé!

29 outubro, 2007 19:57  

Apelei sim, Cléo! Olha só a minha cara de brava pra você: `.´
Alguém viu o meu Death Note? XD

Quanto aos comentários quase unânimes de que há uma falsa sensação de liberdade, eu digo que os nossos pontos de vista não são verdadeiramente divergentes. As pessoas assumem a fachada do "liberou geral", ainda que moralistas, exatamente porque se sentem pressionadas a agir dessa forma. Era isso o que eu queria dizer com falta de liberdade.

Acho que o meu texto saiu assim por causa das festas que eu ando frequentando em Sampa... Beijos a três, a quatro, a cinco... Todo mundo que namora traindo... Tudo isso aqui é tido como normal. Ou eu é que sou moralista demais (uma opção bem plausível, eu diria...).

Obrigada a todos pelos comentários!

30 outubro, 2007 20:17  

beeela crônica (Y)

30 outubro, 2007 23:16  

Eu concordo com a Sofia. Mesmo que ainda estejamos rodeados por preconceitos e regras de conduta, a juventude atual (o velho falando xD) sente que precisa fazer algo para se libertar disso e, como o único caminho que enxerga para fugir das amarras é a "libertinagem", acaba se snetindo pressionado a seguir esse caminho.
Felizes aqueles que conseguem enxergar o "caminho do meio". xD

01 novembro, 2007 12:45  

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